O vírus tinha uma proteína retardadora cuja ação dependia do estado psicoemocional do indivíduo. Dessa forma, os testes de detecção corriam o circuito cerebral do indivíduo para identificar o tipo de sinapse fragmentada na porção de retaguarda do cérebro. Em hipótese alguma, os testes de reação haviam funcionado em mentes autistas, o que dava a essa categoria alto potencial de confiabilidade no desenvolvimento de antídotos contra doenças atingidas por vírus e bactérias sintéticos.
No início, o vírus atingia
muito mais as pessoas idosas e muito menos as crianças; ao longo das infecções,
tornou-se indiferente. No entanto, veio da Comunidade Científica Alternativa uma
solução: a transferência do sangue das crianças para os idosos. A prevenção
teve baixa taxa de adesão e o resultado deu ânimo a outras pesquisas que vieram
desembocar na transferência de gênero pelo processo que ficou conhecido como BRT
(Brain Rapid Transfer).
Mais tarde, um psicobiovírus
passou a ser transmitido via pensamento; ficava incubado nas células do medo
das pessoas e era ativado ante as impressões recebidas nas mensagens produzidas
nos laboratórios da informação. Nem todos conseguiam ser infectados porque, durante
o processo de transmissão, algumas pessoas anulavam a fase sugestionável da
tentativa, ou seja tiravam o carregador da tomada.
Uma seita de adoração ao
vírus surgiu no centro do que restou da América e cooptou mais de um milhão de
integrantes em menos de um mês. Rapidamente eles se espalharam em lugares
próximos à linha do Equador; os adoradores se infectavam e se expunham ao Sol por
14 dias; ao final desse período, a libertação era conseguida. Cerca de 10% dos
integrantes da Seita Sun conseguiram a passagem de redenção para o Céu. Os
demais abjugados, em grupos de dois, difundiam-se pelo mundo multiplicando a
boa nova. A cada ciclo de conversão, os adoradores repetiam o ritual de submissão
ao vírus por 14 dias, para conquistar a liberdade. Sem a conquista, seguiam na obediência
repetindo a série de cura.
O combate ao vírus se
tornava cada vez mais individualizado. Muitos recusavam os antídotos
disponibilizados no mercado em geral e tratavam de providenciar a sua própria
cura. Em pouco tempo as farmácias vendiam manipuladores de essências, cápsulas
vegetais processadas, géis e pomadas, adoçantes e preservativos orgânicos,
todos capazes de defender o organismo humano dos vírus ativos.
Havia, ainda, fórmulas
caseiras amplamente difundidas nas mídias conhecidas de então, incluindo a
grande rede substituta das superadas FAANG+Twitter+Insta.
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