19/11/2021

A EVOLUÇÃO HUMANA É UM SOMATÓRIO DE COOPERAÇÕES

             Explicando:

Alguém inventou a roda láááááá atrás. Depois, outra pessoa encaixou essa roda num eixo, pôs em cima de uma casca de árvore, amarrou-a a um pedaço de pau, criou um cabo para puxar o cesto de rodas e nele passou a carregar pedra, raiz, batata, animal abatido, o escambau... mais tarde, outro ser iluminado adaptou esse trambolho a um cavalo e, pronto, criou a carroça, que continua sendo usada até os dias de hoje. E mais, as carruagens foram revestidas de um amontoado de lata, ferro, plástico, motor veicular e engenharia monetizada capaz de levar os consumidores de um lugar a outro num piscar de cartão de crédito. E Deus viu que isso era bom e tocou o bonde...

Da mesma forma, os primeiros seres deixaram de ser andarilhos, se instalaram numa beira de rio, construíram abrigos, começaram a plantar, a colher, foram se organizando, criaram normas, regras, leis, regulamentaram funções e elegeram responsáveis pela condução das instituições que se iam formando...

O tempo passou ante a arte e o engenho. O gerenciamento da sociedade ficou ali entre quem era o mais forte, o mais velho, o dono da riqueza, o escolhido por deus, o mais conhecido, etc...

De lá pra cá, tudo isso, de certa forma evoluiu e o mecanismo de interação entre os grupos foi se aperfeiçoando e também se repetindo, de modo que, hoje em dia, o jeito de governar as sociedades se apresenta tanto do modo moderno/contemporâneo, por meio de escolhas e práticas democráticas, etc, quanto do jeito medieval e primitivo. Quer dizer, evoluímos sem deixar de lado as raízes beeeem lá de antes. Seria isso um dilema na humanidade? O lugar onde você habita é assim? Tá gostando? Tá não? Tá nem aí? Reclamar onde? Nos quintos da civilização?!...

A senha para o entendimento da geleia geral da evolução é que ao mesmo tempo em que somos seres evoluídos no raciocínio pensativo (?), somos os mesmos primitivos de outrora. E Deus viu que isso era bom e... deixa rolar!

Todo o passo a passo, todo o percurso, cada tijolinho acrescentado pode ser chamado de força colaborativa da linha do tempo.

É claro que em tanta sede de existência houve espaço para um contrário se sobressair (senão nenhum jedai justificaria seu heroísmo). Nem todos remam para o mesmo lado. Então, muitos perseguem a sua razão nisso ou naquilo; adotam uma atitude adversária; elegem uma força de crença e gritam bem alto, mesmo, às vezes, sendo poucos. Estabelecem sua razão nisso ou naquilo. Lutam demais por seus ideais, suas bijuterias, seus produtos de antiestética, seu gosto pessoal, seu partido, sua sopa de emagrecer, sua linguagem artificial, sua voz de desabafo... não importando o resultado, já que no curso da história, tudo acaba sendo corroído ou se incorporando à trajetória temporal. Vale a coragem? Elas juram que sim. Por que não!? Vai saber...!

No final, o tom de colaboração prevalece. Assim espero! Descontando o percentual de mediocridade reinante no mundo, a vida é uma contínua consequência da consequência, um acréscimo de realizações, um aperfeiçoamento do hoje e do que está por vir.

Pelo sim, pelo não a melhor parte da história é a colaboração. Né!?

05/11/2021

ROUBASTE O QUE A MOÇA CONTOU, NÉ, DRUMMOND!?

Não vale, Drummond!

És maior. Sei.

Mas mentiste pra nós, né?! Guardaste bem o bilhete de certa viagem no meio do sossego dos teus alfarrábios. Sei disso!

Que viagem? Ora, ora! A viagem secreta ao mundão dos igarapés do Marajó. Revela!

Diz aí que as histórias que te chegavam sobre o Marajó mexeram com o teu imaginário imaginativo de imaginador compulsivo e te impulsionaram a confirmar de perto a visão provocativa do lugar.  

Falo da crônica A moça contou, publicada no Jornal do Brasil em 1981, e no livro Boca de Luar em 1984.

Aquela crônica sobre o Marajó fabuloso e prático que “atiça curiosidade de saber mais, mais.”

Aquela em que revelas direitinho dos labirintos infinitos de Soure, Salvaterra, Joanes, Condeixa... das “garças e guarás vermelhos pousando nas lagoas”, dos jacarés de montão, das aves de toda cor “que não se assustam com o barulho doce dos remos”... e da vida “arco-irisada” capaz de embriagar a “inocência do gênesis” e de deixar bobo qualquer um que fique na dúvida “sem saber se olha ou se bebe a paisagem.”

A viagem que fizeste ao Marajó é bastante curiosa, tá?!

Sei que na travessia de barco apertaste os olhinhos para avistar láááá longe o cinza sem fim do verde que toma conta de tudo.

Os artifícios de engenhosidade que usaste para entortar a história são bem típicos da tua meninice de funcionário público aposentado. Tá pensando que não sei, meu caro!?

E digo mais. Pisaste na praia e levaste na pele da alma o cheiro do lugar. Fala a verdade!

Tudo que dizes ali, tudo, tudinho não é brincadeira não!

A pintura que fazes das pessoas, das coisas, das praias, das histórias, dos lugares... são segredos míticos debulhados de um olhar buliçoso/inquieto/alumbrado,

somente existente nos dedos capciosos de um menino como tu.

Então, por mim, tá concluído: tu foste sim ao Marajó, bem debaixozinho do nosso nariz, acompanhado da tua metafísica do conhecer, debochando das nossas certezas baseadas na razão empinada. E, de quebra, sorriste da nossa incapacidade de perscrutar-te, te descobrir entre os visitantes mais atentos.

A moça da história foi só uma desculpa para enviesar e dizer que nunca vieste ver verdadeiramente o vivo Marajó. Conta outra! Sei do completo narrador viajante que és. Porém, nesse relato, tua veia de devorador de cenários e de paisagens humanas dá a pista de que teus pés pisaram no chão marajoara e não nos deixa enganar: tu bebeste do leite do amapá. Ou teria sido de búfala?

E se ainda fizeres um juramento inquebrável/inquestionável/inculpável/axiomático/... confessando que as imagens da tua alma foram retiradas das palavras escritas na carta que recebeste daquela moça...

... Será?!

Bem...

No final, Drummond, aquela crônica já não é tua mesmo...

E ainda que te desculpes:

“Lívia, achei tão linda, mas tão linda a sua carta que não resisti: roubei-a para fazer uma crônica.

Você me perdoa?”

Eu te perdoo, Drummond.

Obrigado, professora Lívia Barbosa (na época, estudante) pela provocação enviada nas correspondências ao destinatário.

http://revistas.unama.br/index.php/asasdapalavra/article/viewFile/1600/941?fbclid=IwAR3I8duaReKP6VIKSup_HYgKqcrfWrBUulYwlVK6pDCHZFi1RLof9548kEk