Algumas pessoas não sabiam
da existência do vírus; viviam em lugares distantes do aglomerado das cidades,
situados em áreas de selva, além de territórios indígenas, muitos deles de
pouco contato com as comunidades ribeirinhas mais próximas. Eram coletividades de
parcos recursos tecnológicos que praticavam a agricultura básica, o convívio
familiar e o modo tradicional de subsistência em correlação direta com a
natureza.
Os integrantes desses grupos
eram descendentes das primeiras pessoas que haviam abandonado as cidades grandes
e se estabelecido nessas localidades de difícil acesso. Eram os filhos dos filhos
dos que decidiram viver fora das redes, fora do sistema, sem a engrenagem
social, política e econômica contemporânea. Tal geração, posterior aos que deixaram
de se conectar com as cidades e passaram a ser autossuficientes fora e longe
das cidades, já caminhava a larga experiência sem o intercâmbio da urbanização.
A determinação dessas
pessoas não permitia o relacionamento direto deles com as sociedades habituais
anteriores; já haviam absorvido o sentido da iniciativa dos fundadores da
filosofia de vida adotada por eles. Com o acréscimo de que passaram a dominar a
vocação para a vida tribal, beirando o primitivo. Eles evoluíram em relação aos
seus pais, no sentido de que passaram a dominar técnicas de resistência ao
progresso urbano, à evolução tecnológica, ao sistema de intercâmbio de provas comerciais
e dependência do consumismo; tinham assimilado a vocação dos mais velhos, optantes
por outro mundo, diferente do modelo sistematizado de vida aparelhada e artificial
que direcionava as vontades, onde cada um vivia num círculo viciado de hábitos
e costumes cada vez mais dominante e avassalador.
Dessa forma, as sociedades
fora do sistema conquistaram muitos adeptos; eram os desconsolados do mundo
polarizado, pessoas desacreditadas do debate em torno da distopia da utopia, incluindo
a protopia, e partiram para pôr a mão na massa da civilização orgânica e
essencial. Foram habitar o inabitável, o lugar difícil de chegar e de se achar,
para além das linhas de ônibus e das estradas onde os automóveis transitam
livremente.
Uma dessas comunidades foi
existir num além rio-mar da grande mãe amazônica; um espaço não habitado, onde
a ocupação e a exploração seriam de primeira vez. Era constituída de pessoas
livres e ambiciosas no desejo de viver e produzir dentro da comunidade que decidiram
levantar naquele lugar.