22/04/2021

QUEM DISSE QUE REALIDADE E FICÇÃO NÃO SÃO IRMÃS?


O dilema é: realidade e ficção têm parentesco?

Para alguns crédulos, elas não se conhecem; para outros contribuintes, é possível passar uma vida inteira sem conhecê-las. Uns tantos juram que jamais se afastam da própria realidade. Por outro lado, há quem diga que realidade e ficção são duas irmãs, moram na mesma casa, dividem o aluguel da ancestralidade e passam boa parte do tempo na janela observando os transeuntes. Por vezes se separam; uma vai prum canto, outra some de vez; depois, a sumida reaparece com um oi! e tá tudo certo.

De que vivem? De tudo que é simpatia e bijuteria, incluindo as misérias humanas. São superativas quando querem ver o circo pegar fogo, ou, então, se isolam sob o lençol da inércia. Estão sempre presentes, aqui e ali, colhendo uma coisa, recolhendo outra. Às vezes brincam de se esconder na casa de quem vive fora da casinha. Nesses casos, elas fazem a festa, trocam de identidade o tempo todo. E quando uma se passa pela outra?...! Melhor sair de perto! Nessas ocasiões, ocorre treta poderosa, sobra confusão e explode a audiência do reality-show.

De vez em quando penetram no universo de uma inteligência cética ou não, obtusa ou não, cartesiana ou não, emocional ou sim e passam a lhe soprar os pensamentos... As pessoas submetidas a essa influência acreditam que somente uma das irmãs está ali fazendo carícias nas suas certezas. Que nada! A outra tá sempre por perto, saçaricando, selfiando, instagrandeando, fugindo de si, entre malabarismos delicados e sorrateiros, sempre desequilibrando a voz e as ações dos inocentes.

E quando a pessoa acha de fugir da realidade?! Humm! Pode até tentar, mas uma irmã não larga a mão da outra. Se seguem nas redes sociais. Segredos de uma são passados à outra. Só que nessas relações paralelas, elas mantêm uma fidelidade menos hermética e mais partidária, havendo o risco de vazamento de revelações, tá?!

Tem a história de que nasceram coladas uma na outra, e, com certo esforço, acabaram se separando só para terem a independência de se juntarem quando quisessem, na alegria e na tristeza, na feira da rua e na foto da campanha política. Mas isso é o que contam por aí. Será que é crível/inteligível/factível/tangível/consumível/corruptível/esquecível/elegível/rebatível/respondível/traduzível/fotossensível/indesmentível/menosprezível/subentendível/irreproduzível/ufa!/sobreinteligível/é_nóis_tá_ligado?

No final, as duas irmãs acabam por se confundir. Por nos confundir. Tentar visitá-las no seu lar/doce/home pode até fundir a cuca, sabia? Há perigo quando, ao tentar, a pessoa entra demais na realidade. Ou quando sai demais dela.

Eis o dilema.