O dilema é: realidade e ficção têm parentesco?
Para alguns crédulos, elas
não se conhecem; para outros contribuintes, é possível passar uma vida inteira
sem conhecê-las. Uns tantos juram que jamais se afastam da própria realidade. Por
outro lado, há quem diga que realidade e ficção são duas irmãs, moram na mesma
casa, dividem o aluguel da ancestralidade e passam boa parte do tempo na janela
observando os transeuntes. Por vezes se separam; uma vai prum canto, outra some
de vez; depois, a sumida reaparece com um oi! e tá tudo certo.
De que vivem? De tudo que é
simpatia e bijuteria, incluindo as misérias humanas. São superativas quando
querem ver o circo pegar fogo, ou, então, se isolam sob o lençol da inércia. Estão
sempre presentes, aqui e ali, colhendo uma coisa, recolhendo outra. Às vezes
brincam de se esconder na casa de quem vive fora da casinha. Nesses casos, elas
fazem a festa, trocam de identidade o tempo todo. E quando uma se passa pela
outra?...! Melhor sair de perto! Nessas ocasiões, ocorre treta poderosa, sobra
confusão e explode a audiência do reality-show.
De vez em quando penetram
no universo de uma inteligência cética ou não, obtusa ou não, cartesiana ou não,
emocional ou sim e passam a lhe soprar os pensamentos... As pessoas submetidas
a essa influência acreditam que somente uma das irmãs está ali fazendo carícias
nas suas certezas. Que nada! A outra tá sempre por perto, saçaricando, selfiando,
instagrandeando, fugindo de si, entre malabarismos delicados e sorrateiros,
sempre desequilibrando a voz e as ações dos inocentes.
E quando a pessoa acha de fugir
da realidade?! Humm! Pode até tentar, mas uma irmã não larga a mão da outra. Se
seguem nas redes sociais. Segredos de uma são passados à outra. Só que nessas relações
paralelas, elas mantêm uma fidelidade menos hermética e mais partidária, havendo
o risco de vazamento de revelações, tá?!
Tem a história de que
nasceram coladas uma na outra, e, com certo esforço, acabaram se separando só
para terem a independência de se juntarem quando quisessem, na alegria e na
tristeza, na feira da rua e na foto da campanha política. Mas isso é o que
contam por aí. Será que é crível/inteligível/factível/tangível/consumível/corruptível/esquecível/elegível/rebatível/respondível/traduzível/fotossensível/indesmentível/menosprezível/subentendível/irreproduzível/ufa!/sobreinteligível/é_nóis_tá_ligado?
No final, as duas irmãs
acabam por se confundir. Por nos confundir. Tentar visitá-las no seu
lar/doce/home pode até fundir a cuca, sabia? Há perigo quando, ao tentar, a
pessoa entra demais na realidade. Ou quando sai demais dela.
Eis o dilema.